Carnaval
O ruído atordoante dos
instrumentos de percussão incitava ao culto bárbaro do prazer
alucinante, misturando-se aos trovões galopantes enquanto os corpos
pintados, semidespidos, estorcegavam em desespero e frenesi,
acompanhando o cortejo das grandes escolas de samba, no brilho
ilusório dos refletores, que se apagariam pelo amanhecer.
Como acontecera nos anos
anteriores, aquela segunda-feira de carnaval convidava ao desaguar de
todas as loucuras no delta das paixões da avenida em festa.
Milhares de pessoas imprevidentes,
estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as
ansiedades represadas, cediam ao império dos desejos, nas torrentes
da lubricidade que as enlouquecia.
A delinqüência abraçava o vício,
urdindo as agressões, em cujas malhas se enredavam as vitimas
espontâneas, que se deixavam espoliar.
As mentes, em torpe comércio de
interesses subalternos, haviam produzido uma psícosfera pestilenta,
na qual se nutriam vibriões psíquicos, formas-pensamento de mistura
com entidades perversas, viciadas e dependentes, em espetáculo
pandemônico, deprimente.
As duas populações – a física
e a espiritual, em perfeita sintonia – misturavam-se,
sustentando-se, disputando mais largas concessões em simbiose
psíquica.
Não obstante, como sempre ocorre
em situações desta natureza, equipes operosas de trabalhadores
espirituais em serviço de emergência, revezavam-se, infatigáveis,
procurando diminuir o índice de desvarios, de suicídios a breve e
largo prazo pelas conexões que então se estabeleciam, para defender
os incautos, menos maliciosos, enfim socorrer a grande mole em
desequilíbrio ou pronta para sofre-lhe o impacto.
--- O ---
Onde a criatura coloque suas
aspirações, ai encontra intercâmbio. O homem é o somatório dos
seus anelos e realizações. Enquanto não elabore mais altas
necessidades íntimas, demorar-se-á nas permutas grosseiras da faixa
dos instintos primários. Em razão disso, a humanidade padece de
carências urgentes nas áreas rudimentares da vida... Deixando-se
martirizar pelos desejos inconfessáveis, ainda não se resolveu por
uma conduta, realmente emocional, que lhe permita o trabalho íntimo
de desembaraçar-se das sensações que respondem pelos interesses
grosseiros, geradores das lutas pela posse com a predominância do
egoísmo.
Até agora a conquista do belo e a
liberação dos vícios têm sido desafios para os espíritos fortes,
que marcham à frente, despertando os da retaguarda, anestesiados na
ilusão e agrilhoados aos prazeres aliciantes, venenosos.
Não nos cabe, todavia, duvidar da
vitória do amor e do êxito que todos conseguirão hoje ou mais
tarde.
( Divaldo Pereira Franco, Nas
fronteiras da loucura – Pelo Espírito Manoel Philomeno de
Miranda.)
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