domingo, 25 de janeiro de 2015

O CULTO CRISTÃO NO LAR

O CULTO CRISTÃO NO LAR

P
ovoara- se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar, quando o Senhor, instalado provisoriamente em c asa de Pedro, tomou os Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação que se fizera improdutiva e menos edificante, falou com bondade:
 _ Simão, que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutos de cada dia?
O apóstolo pensou alguns momentos e respondeu hesitante:

 _ Mestre, naturalmente escolhemos os peixes melhores. Ninguém compra os resíduos da pesca.
 Jesus sorriu e perguntou de novo:
_ E o oleiro? Que faz para atender à tarefa a que se propõe?
_ Certamente, Senhor - redarguiu o pescador, intrigado -, modela o barro, imprimindo- lhe a forma que deseja.

O Amigo Celeste, de olhar compassivo e fulgurante, insistiu:
_ E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?

O interlocutor, muito simples, informou sem vacilar:
 _ Lavrará a madeira, usará a enxó e o serrote, o martelo e o formão. De outro modo não aperfeiçoará a peça bruta.

Calou- se Jesus, por alguns instantes, e aduziu:

_ Assim, também, é o lar diante do mundo. O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma.
A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma comunidade segura e tranquila sem que o lar se aperfeiçoe?
 A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendermos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se não nos habituamos a amar o irmão mais próximo, associando- o à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?

 Jesus relanceou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e continuou:
_ Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procura a assistência fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento?

O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, envia- nos a luz através do Céu. Se a claridade é a expansão dos raios que a constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.

Simão Pedro fitou o Mestre nos olhos humildes e lúcidos e, como não encontrasse palavras adequadas para explicar- se, murmurou, tímido:
_ Mestre, seja feito como desejas.
Então Jesus, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o primeiro culto cristão no lar.


 (XAVIER, Francisco Cândido - Luz no lar. 11° Ed. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008. Cap. 60)

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