Calvário dos Médiuns
Envolta
em auréola mítica por largos séculos, a mediunidade tem sido
confundida, na sua realidade paranormal, transitando do estado de graça à
condição de demonopatia ou degeneração psicológica da natureza humana.
Homenageada
em alguns períodos da História, noutros detestada e perseguida com
dureza, ainda permanece ignorada pela presunção de uns, pela ignorância
de outros, pelo preconceito que, teimosamente, se demoram, dominadores,
no organismo sociocultural dos nossos dias.
Allan
Kardec foi o corajoso estudioso que lhe penetrou as causas e estudou à
saciedade, estabelecendo critérios justos de avaliação e técnicas
próprias para a compreensão, estudo e desdobramento das suas
possibilidades psíquicas.
As
suas análises abrem espaços científicos e culturais para um
conhecimento lógico dessa faculdade, desvestindo-a de todas as
superstições, fantasias e acusações de que tem sido vítima.
Mediante
linguagem clara e fácil ao entendimento de todos, examinou a
mediunidade sob os pontos de vista orgânico, psicológico, psiquiátrico e
sociológico, concluindo pela sua legitimidade e amplos recursos para a
perfeita integração do homem na harmonia da Natureza, estabelecendo
diretrizes morais para o seu exercício e regras comportamentais para a
sua demonstração científica, elaborando um tratado extraordinário, que
permanece o mais completo a respeito da paranormalidade humana, que é o
insuperável O livro dos médiuns.
Apesar
disso, a mediunidade e os médiuns prosseguem como motivo de surpresa,
admiração e sarcasmo, conforme o meio social em que se apresentem.
Utilizados,
invariavelmente, para futilidades e divertimentos, sofrem o
barateamento da ingerência de pessoas astutas, porém desinformadas, que
pretendem conduzi-los em proveito próprio ou para exibição em
espetáculos que se caracterizam pelo ridículo decorrente da ignorância
de que são portadores.
Chamam
a atenção pelo exibicionismo vulgar e logo desaparecem, quais cometas
que passam com celeridade, sem maior benefício, para o zimbório sombrio,
por onde deambulam errantes.
A
mediunidade, exercida com elevação de propósito, séria e digna, tem
sofrido a incompreensão e agressividade daqueles que gostariam de
utilizá-la nos jogos da ilusão e do prazer. Por consequência, os médiuns
sinceros e honestos, de conduta moral incorruptível pagam alto preço
pela vida moral a que se entregam e por se fazerem dóceis às orientações
dos seus guias espirituais, que não convivem com ideias, discussões
estéreis, rivalidades de indivíduos, grupos, nem sociedades que se
entregam ao campeonato da vaidade.
Atacados
os próprios arraiais do Movimento no qual laboram, são levados à praça
público do ridículo por companheiros apressados, sem nenhuma folha de
serviço apresentada à Causa Espírita, mas, hábeis, nos aranzéis da
agressão, escrevendo ou falando, desta forma, por mecanismo de
transferência psicológica, atirando no trabalhador o que se encontra
neles próprios e descarregando a mal disfarçada inveja que os leva a
competir, às vezes, inconvenientemente, quando deveriam compartir e
participar do serviço de iluminação de consciências ao qual aquele se
entrega.
Sucede
que se encontram teleguiados por mentes insanas, as quais sempre
combateram e perseguiram os instrumentos das Vozes lúcidas do
Além-Túmulo que vêm despertar os homens e adverti-los das ciladas
preparadas por esses adversários desencarnados, incansáveis nos seus
malfadados programas de perturbação e crimes, obsessão e loucura...
Além
destes, que medram com exuberância nos dias atuais, a dureza dos
descrentes e gozadores sempre está disposta a agredir os médiuns e
acusá-los de serem portadores de desequilíbrios da mente, do sexo, da
conduta, por serem diferentes, isto é, por adotarem um comportamento
saudável, que aqueles têm como incompatível com os dias de luxúria e
abuso de toda natureza, ora vigentes.
Outros
perseguidores ainda repontam em pessoas que procuram depender
emocionalmente do amigo da mediunidade, as quais, contrariadas por este
ou aquele motivo, verdadeiro ou falso, se levantam para infligir maior
soma de sofrimentos a quem sempre lhes aturou com paciência a preguiça
mental e as irregularidades morais, brindando-os com palavras amigas e
consoladoras...
Já
não se apedrejam, nem se encarceram ou conduzem à fogueira os médiuns.
Todavia, a maledicência e a acrimônia, a crítica sistemática e as
exigências de consultas largas quão inócuas constituem prova e martírio
para os instrumentos abnegados que se entregam ao ministério com unção.
Além do círculo de erro exterior que os comprime, a sua condição humana
exige-lhes muitas renúncias silenciosas, que os amigos fingem não ver,
por considerarem que a mediunidade, segundo alguns, é um privilégio que
libera o seu portador das aflições e processos de evolução pela dor.
Carregando
todos os problemas inerentes à sua situação evolutiva, remuneram a alto
preço a existência, em holocaustos admiráveis e perseverantes no Bem,
que os credenciam a receber maior assistência e amor dos seus amigos
espirituais.
Por
fim, sofrem o assédio tanto das entidades inimigas do progresso da
Humanidade, como dos seus próprios adversários espirituais, que não os
perdoam pela tarefa que desempenham em favor de si mesmos e das demais
criaturas.
O
calvário dos médiuns é oculto e deve ser vivido com dignidade, sem
queixas ou reclamações, pois que é, também, o pórtico da ressurreição
gloriosa, de onde se alarão às regiões felizes, depois de cumpridas as
tarefas de amor e esclarecimento, de caridade e perdão para as quais
reencarnaram.
Têm
por modelo Jesus, que lhes permanece como o Conquistador Inconquistado
que, morrendo por amor, distribui vida para todos aqueles que o buscam e
nele creem, servem e passam, rumando na direção da Imortalidade...
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