terça-feira, 24 de outubro de 2017

Bullying - Assédio Moral

Na língua portuguesa não há tradução exata para Bullying (do verbo inglês, to bully =intimidar), expressão que traz o conceito de assédio moral, vinculado à prática de atos intencionais e repetidos causadores de sofrimento e angústia, consequentes de violência física e/ou psicológica. 
O bullying difere das brincadeiras, piadas ou desrespeitos inconsequentes. Ao contrário, caracteriza-se por “casos de violência física e/ou moral, em muitos casos, de forma velada, praticada por agressores contra vítimas”.

1 É importante, pois, saber diferenciar o bullying que é sempre revestido da intenção de ferir, dos conflitos comuns que ocorrem, sobretudo, entre crianças e adolescentes, visto que “o conflito é, frequente e erroneamente associado à existência de violência, fazendo-se necessário diferenciá-lo de suas formas não positivas de mediação”.

2 O termo bullying descreve uma ampla variedade de comportamentos que podem ter impacto sobre a propriedade e o status social de uma pessoa. Bullying é forma de comportamento agressivo e direto que é intencional, doloroso e persistente (repetido). Crianças vítimas de maus-tratos são debochadas, assediadas, socialmente rejeitadas, ameaçadas, caluniadas e assaltadas ou atacadas (verbal, física e psicologicamente) por um ou mais indivíduos. Há níveis desiguais de reação (isto é, a vítima fica perturbada e aborrecida, enquanto o perpetrador se mantém calmo) e um frequente desequilíbrio de força (poder e dominação). Esse desequilíbrio pode ser físico ou psicológico
[...]. Algumas palavras-chave em nossa definição de bullying são intencional, doloroso, persistente e desequilíbrio de força.

3 A propósito, pondera Emmanuel:
[...] violência é sempre o mal em ação, ainda mesmo quando pareça construir um atalho para o bem. Enquanto o Sol, sem palavras, consegue inspirar confiança ao viajor, o vento ruidoso e forte, provoca medo e reação por onde passa.

4 Por sua vez, o Espírito Carlos Torres Pastorino comenta sobre o significado histórico do termo violência: Violentia é a palavra latina que se traduz como violência, que foi criada por volta de 1215, para melhor expressar a desrespeitosa utilização da força em detrimento dos direitos do cidadão. Posteriormente, quase trezentos anos transcorridos, passou a significar qualquer tipo de abuso exercido arbitrariamente contra outrem, impondo-lhe a vontade, desconsiderando-lhe os valores e usando a força para submetê-lo cruelmente. Na atualidade tornou-se uma verdadeira epidemia, transformando-se em constrangimento, agressividade, insulto, dos quais resultem danos psicológicos, morais, sociais, econômicos, materiais e quase sempre culminando em morte. […]

5 Os estudos sobre bullying foram introduzidos pelo psicólogo sueco Dan Akke Olweus (nascido em Kalmar-Suécia, em 1831), a partir de resultados obtidos da pesquisa realizada na Universidade de Bergen, Noruega, em que investigou causas das taxas de suicídio em crianças, ocorridas na Noruega, na década de 1970.Neste trabalho,Olweus definiu os principais critérios da manifestação do bullying: físicos (bater, roubar, agredir, vandalizar etc.), verbais (insultar, ofender, ameaçar etc.) e psicológicos (humilhar, perseguir, agredir, tiranizar,chantagear etc.).
Os envolvidos no bullying podem ser classificados em quatro grupos: agressores, vítimas, espectadores passivos e vítimas-agressoras.

6 Conhecido como bully (plural, bullies), o “agressor de ambos os sexos, costuma ser um indivíduo que manifesta pouca empatia. Frequentemente é membro de família desestruturada, em que há pouco ou nenhum relacionamento afetivo. [...] Custa a adaptar-se às normas; não aceita ser contrariado
[...]. É considerado malvado, duro e mostra pouca simpatia para com suas vítimas. Adota condutas antissociais, incluindo o roubo, o vandalismo e o uso de álcool, além de ser atraído pelas más companhias”.

6 Para o Espiritismo o ofensor é uma alma enferma cuja cura demanda tempo: O ofensor pode ser a criatura que está sob lastimáveis processos obsessivos, que carrega enfermidades ocultas, que age ao impulso de tremendos enganos, que atravessa a nuvem do chamado momento infeliz, e, quando assim não seja, é alguém que traz a visão
espiritual enevoada pela poeira da ignorância, o que, no mundo, é uma infelicidade como qualquer outra. Cabem, ainda, ao ofensor o pesadelo do arrependimento, o desgosto íntimo, o anseio de reequilíbrio e a frustração agravada pela certeza de haver lesado espiritualmente a si próprio.

7 As vítimas usuais dos bullies “não precisam fazer nada para serem escolhidas. Os agressores simplesmente as elegem no meio de um grupo para serem alvos de seus ataques. Essas agressões, então, não têm um motivo especial, uma origem”.

8 Ensina-nos Emmanuel que há vários tipos de pessoas que perseguem outras, condição que reflete o seu atraso moral: Entre os perseguidores, contam-se os obsidiados, os intemperantes, os depravados, os infelizes, os caluniadores, os calculistas e os criminosos, que descem pelas torrentes do remorso para a necessária refundição mental nos alambiques do tempo, mas, entre os perseguidos sem razão, enumeram-se quase todos aqueles que lançam nova luz sobre as rotas da vida.

9 Os espectadores passivos, também conhecidos como testemunhas silenciosas, representam um grupo maior, “formado por pessoas que ao mesmo tempo são, de certa forma, vítimas e testemunhas dos fatos. A grande maioria não concorda com as agressões, mas preferem ficar em silêncio, pois têm medo de que os agressores, em caso de saída em defesa das vítimas, as ‘eleja’ também para esses ataques”. 
 
10 Pelo fato de as testemunhas silenciosas conviverem, no mesmo ambiente, com os agressores e com as vítimas, podem, por sua vez, apresentar diferentes graus de estresse e de medo, por temer os bullies e por se apiedar das vítimas.As vítimas-agressoras são “pessoas que foram vitimizadas pelo bullying e passaram a ser agressoras de outras pessoas. Aprenderam o comportamento do bullying e por algum motivo passaram a reproduzir o comportamento e atacar outras pessoas”.

11 É preciso muita cautela para não se deixar contaminar pelo mal, sobretudo quando se é vítima de sua ações.Pais, educadores, médicos e psicólogos, juristas, a sociedade como um todo, devem empenhar-se para auxiliar os que foram atingidos pela perseguição, a fim de que a vítima consiga superar o abuso a que foi submetida, como nos alerta o esclarecido Espírito orientador: E, então, a pessoa, invigilante e infeliz, assim transformada em temível fantasma de incompreensão e de intransigência, enrodilha-se na própria sombra, como a tartaruga na carapaça, e, em lastimável isolamento de espírito, não sabe entender ou perdoar para ser também perdoada e entendida, enquistando-se na inconformação, que se lhe amplia no pensamento e na atitude, na palavra e nos atos, tiranizando-lhe a vida, como a enfermidade letal que se agiganta no corpo pela multiplicação indiscriminada de perigosos bacilos. Atingido esse estado de alma, não adota outro rumo que não seja o da crueldade com que,muitas vezes, se arroja ao despenhadeiro da delinquência, associando-se a todos aqueles que se lhe afinam com as vibrações deprimentes, em largas simbioses de desumanidade e loucura, formando o pavoroso inferno do crime.

12O bullying pode ser classificado em tipos, segundo as especificidades do local onde se manifesta: escola, trabalho, penitenciária, meio militar, internet (cyberbullying), ou das vítimas: bullying homofóbico, racial, religioso, sexual, socioeconômico, etc. Em razão dos diferentes fatores envolvidos, os tipos de bullying serão analisados em artigo específico.
A prevenção do bullying é de natureza educativa e contínua, abrangendo todos os seguimentos da sociedade, dando-se ênfase: “à tolerância, ao respeito à diversidade, à comunicação eficaz, a autoestima, à mediação de conflitos, à promoção da paz e da cidadania”.

13 Educação assim entendida: [...] com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude [que] não será conseguida tão-só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade [...]

Por MARTA ANTUNES MOURA
REVISTA: REFORMADOR, FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, ANO 129-Nº 2.191-OUTUBRO 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Juiz Reto

Ao tribunal de Eliaquim ben Jefté, juiz respeitável e sábio, compareceu o negociante Jonatan ben Cafar arrastando Zorobabel, miserável mendi...