Na
língua portuguesa não há tradução exata para Bullying
(do verbo inglês, to bully
=intimidar), expressão que traz o
conceito de assédio moral, vinculado à prática de atos
intencionais e repetidos causadores de sofrimento e angústia,
consequentes de violência física e/ou psicológica.
O bullying
difere das brincadeiras, piadas ou
desrespeitos inconsequentes. Ao contrário, caracteriza-se por “casos
de violência física e/ou moral, em muitos
casos, de forma velada, praticada por agressores contra vítimas”.
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É importante, pois, saber diferenciar o bullying
que é sempre revestido da intenção
de ferir, dos conflitos comuns que ocorrem, sobretudo, entre crianças
e adolescentes, visto que “o conflito é, frequente e erroneamente
associado à existência de violência, fazendo-se necessário
diferenciá-lo de suas formas não positivas de mediação”.
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O termo bullying descreve
uma ampla variedade de comportamentos que podem ter impacto sobre a
propriedade e o status social
de uma pessoa. Bullying é
forma de comportamento agressivo e direto que é intencional,
doloroso e persistente (repetido). Crianças vítimas de maus-tratos
são debochadas, assediadas, socialmente rejeitadas, ameaçadas,
caluniadas e assaltadas ou atacadas (verbal, física e
psicologicamente) por um ou mais indivíduos. Há níveis desiguais
de reação (isto é, a vítima fica perturbada e aborrecida,
enquanto o perpetrador se mantém calmo) e um frequente desequilíbrio
de força (poder e dominação). Esse desequilíbrio pode ser físico
ou psicológico
[...].
Algumas palavras-chave em nossa definição de bullying
são intencional,
doloroso,
persistente e desequilíbrio de
força.
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A propósito, pondera Emmanuel:
[...]
violência é sempre o mal em ação, ainda mesmo quando pareça
construir um atalho para o bem. Enquanto o Sol, sem palavras,
consegue inspirar confiança ao viajor, o vento ruidoso e forte,
provoca medo e reação por onde passa.
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Por sua vez, o Espírito Carlos Torres Pastorino comenta sobre o
significado histórico do termo violência: Violentia
é a palavra latina que se traduz
como violência, que foi criada por volta de 1215, para melhor
expressar a desrespeitosa utilização da força em detrimento dos
direitos do cidadão. Posteriormente, quase trezentos anos
transcorridos, passou a significar qualquer tipo de abuso exercido
arbitrariamente contra outrem, impondo-lhe a vontade,
desconsiderando-lhe os valores e usando a força para submetê-lo cruelmente.
Na atualidade tornou-se uma verdadeira epidemia, transformando-se em
constrangimento, agressividade, insulto, dos quais resultem danos
psicológicos, morais, sociais,
econômicos, materiais e quase sempre culminando em morte. […]
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Os estudos sobre bullying foram
introduzidos pelo psicólogo sueco Dan Akke Olweus (nascido em
Kalmar-Suécia, em 1831), a partir de resultados obtidos da pesquisa
realizada na Universidade de Bergen, Noruega, em que investigou
causas das taxas de suicídio em crianças, ocorridas na Noruega, na
década de 1970.Neste trabalho,Olweus definiu os principais critérios
da manifestação do bullying:
físicos (bater, roubar, agredir, vandalizar etc.), verbais
(insultar, ofender, ameaçar etc.) e psicológicos (humilhar,
perseguir, agredir, tiranizar,chantagear etc.).
Os
envolvidos no bullying podem
ser classificados em quatro grupos: agressores,
vítimas,
espectadores passivos e
vítimas-agressoras.
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Conhecido como bully (plural,
bullies),
o “agressor de ambos os sexos, costuma ser um indivíduo que
manifesta pouca empatia. Frequentemente é membro de família
desestruturada, em que há pouco ou nenhum relacionamento afetivo.
[...] Custa a adaptar-se às normas; não aceita ser contrariado
[...].
É considerado malvado, duro e mostra pouca simpatia para com suas
vítimas. Adota condutas antissociais, incluindo o roubo, o
vandalismo e o uso de álcool, além de ser atraído pelas más
companhias”.
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Para o Espiritismo o ofensor é uma alma enferma cuja cura demanda
tempo: O ofensor pode ser a criatura que está sob lastimáveis
processos obsessivos, que carrega enfermidades ocultas, que age ao
impulso de tremendos enganos, que atravessa a nuvem do chamado
momento infeliz, e, quando assim não seja, é alguém que traz a
visão
espiritual
enevoada pela poeira da ignorância, o que, no mundo, é uma
infelicidade como qualquer outra. Cabem, ainda, ao ofensor o pesadelo
do arrependimento, o desgosto íntimo, o anseio de reequilíbrio e a
frustração agravada pela certeza de haver lesado espiritualmente a
si próprio.
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As vítimas usuais
dos bullies “não
precisam fazer nada para serem escolhidas. Os agressores simplesmente
as elegem no meio de um grupo para serem alvos de seus ataques. Essas
agressões, então, não têm um motivo especial, uma origem”.
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Ensina-nos Emmanuel que há vários tipos de pessoas que perseguem
outras, condição que reflete o seu atraso moral: Entre os
perseguidores, contam-se os obsidiados, os intemperantes, os
depravados, os infelizes, os caluniadores, os calculistas e os
criminosos, que descem pelas torrentes do remorso para a necessária
refundição mental nos
alambiques do tempo, mas, entre os perseguidos sem razão,
enumeram-se quase todos aqueles que lançam nova luz sobre as rotas
da vida.
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Os espectadores passivos,
também conhecidos como testemunhas silenciosas, representam um grupo
maior, “formado por pessoas que ao mesmo tempo são, de certa
forma, vítimas e testemunhas dos fatos. A grande maioria não
concorda com as agressões, mas preferem ficar em silêncio, pois têm
medo de que os agressores, em caso de
saída em defesa das vítimas, as ‘eleja’ também para esses
ataques”.
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Pelo fato de as testemunhas silenciosas conviverem, no mesmo
ambiente, com os agressores e com as vítimas, podem, por sua vez,
apresentar diferentes graus de estresse e de medo, por temer os
bullies e
por se apiedar das vítimas.As vítimas-agressoras
são “pessoas que foram
vitimizadas pelo bullying e
passaram a ser agressoras de outras pessoas. Aprenderam o
comportamento do bullying e
por algum motivo passaram a reproduzir o comportamento e atacar
outras pessoas”.
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É preciso muita cautela para não se deixar contaminar pelo mal,
sobretudo quando se é vítima de sua ações.Pais, educadores,
médicos e psicólogos, juristas, a sociedade como um todo, devem
empenhar-se para auxiliar os que foram atingidos pela perseguição,
a fim de que a vítima consiga superar o abuso a que foi submetida,
como nos alerta o esclarecido Espírito orientador: E, então, a
pessoa, invigilante e infeliz, assim transformada em temível
fantasma de incompreensão e de intransigência, enrodilha-se na
própria sombra, como a tartaruga na carapaça, e, em lastimável
isolamento de espírito, não sabe entender ou perdoar para ser
também perdoada e entendida, enquistando-se na inconformação, que
se lhe amplia no pensamento e na atitude, na palavra e nos atos,
tiranizando-lhe a vida, como a enfermidade letal que se agiganta no
corpo pela multiplicação indiscriminada de perigosos bacilos.
Atingido esse estado de alma, não adota outro rumo que não seja o
da crueldade com que,muitas vezes, se arroja ao despenhadeiro da
delinquência, associando-se a todos aqueles que se lhe afinam com as
vibrações deprimentes, em largas simbioses de desumanidade e
loucura, formando o pavoroso inferno do crime.
12O
bullying pode
ser classificado em tipos, segundo as especificidades do local
onde se manifesta: escola, trabalho,
penitenciária, meio militar, internet (cyberbullying),
ou das vítimas: bullying homofóbico,
racial, religioso, sexual, socioeconômico, etc. Em razão dos
diferentes fatores envolvidos, os tipos de bullying
serão analisados em artigo
específico.
A
prevenção do bullying é
de natureza educativa e contínua, abrangendo todos os seguimentos da
sociedade, dando-se ênfase: “à
tolerância, ao respeito à diversidade, à comunicação eficaz, a
autoestima, à mediação de conflitos, à promoção da paz e da
cidadania”.
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Educação assim entendida: [...] com o cultivo da inteligência e
com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de
conhecimento e bondade, saber e virtude [que] não será conseguida
tão-só à força de instrução, que se imponha de fora para
dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade [...]
Por MARTA ANTUNES MOURA
REVISTA:
REFORMADOR, FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, ANO 129-Nº
2.191-OUTUBRO 2011.