A nossa reunião em preces começara.
Em derredor, a névoa densa... Éramos oitos irmãos, ante a presença Da inteligência rara De antigo delinqüente, Que precisava rumo diferente. Finda a nossa oração, O Instrutor exclamou, emocionado: - Escuta, meu irmão, Agora, és nosso convidado Para a escola do amor. Em nome de Jesus, cuja a paz nos alcança, Rogamos-te esquecer os gestos de vingança Que exerces sobre humilde lar terreno, Hoje quase desfeito Sem que a piedade te penetre o peito, Semelhante a motor sustentado a veneno... Uma estranha e estridente gargalhada Ecoou, sob a névoa desolada. - Nunca! – disse o infeliz, mal disfarçando a ira – Não me faleis de amor, essa eterna mentira, Farei justiça pelas próprias mãos. Estou cansado de preceitos vãos. Ingênuos pregadores, que dizeis De tudo o que sofri no relho da injustiça? Das mistificações de vossas duras leis, Ninguém me arrancará do ódio que me escolta, Quero ser a vingança, o rebate, a revolta... Pobre órfão de mãe, sem pai que me quisesse, Para sobreviver doente, exausto e roto, Fiz-me rato de esgoto, Embora o homem, meu pai, amplamente soubesse Que eu tinha sob os pés o abismo por destino... Fui ladrão e assassino. Temível salteador Respondendo a sarcasmo o fel da minha dor!... Ante a pausa pequena, O Instrutor indagou em voz serena: - E Deus, irmão? Que fizeste de Deus? - Eu preferi trilhar a estrada dos ateus – - Replicou, apressado, o espírito infeliz – - Se há Deus também é um Pai que não me quis; Sei que saí da morte e existo em outro plano, Mas não quero ilusões do pensamento humano!... - E o bem? Não queres crer na prática do bem? – - Disse o Orientador, paciente e amigo- - Não desejamos obrigar-te, Quanto possas, porém, modifica-te e vem Ao caminho do amor que é sempre o nosso abrigo, A doar-nos socorro em qualquer parte. - Tolice!... – proclamou a rebelde entidade – O bem aduba o mal em toda Humanidade, A prática do bem sugere desacatos, É a galinha a sofrer na desova de ingratos. Notando-lhe a feição empedernida, O nosso grupo em prece ao Criador da Vida Pediu por ele apoio e proteção. Assim que terminou a singela oração Que o nosso Condutor em pranto formulara, Veio do Azul Imenso uma luz rosicler Que se fez, entre nós, simpática mulher... Abraçou-nos sorrindo, em júbilo e tristeza, Dirigindo-se após ao rude sofredor, Falou-lhe em doce voz, repassada de amor: - Filho, Deus te abençoe!... – E o pobre a ouvi-la, Qual se atendesse, enfim, a invencível comando, Cambaleou sem força e gritou, soluçando: - Mãe, generosa mãe, rever-te me aniquila... Não me retenhas, mãe! A treva me reclama, Fita-me o peito em fel, a converter-se em lama... Sou apenas um monstro, acusado e infeliz!... Ela, porém, sentou-se, linda tal qual era, Colocou-lhe a cabeça no regaço E parecendo um anjo, acalmando uma fera, a lhe apontar a imensidão do Espaço: - Filho, é meu ideal, o mais belo e o mais santo; Não te sintas a sós, eu nunca te amei tanto Quanto agora que estás desolado e sozinho Não te creias no mal, és filho dos Céus, Deus não cria em ninguém o estigma dos réus. A vida nos fará renovado caminho. Erraste, filho meu, mas as faltas que tens Resgataremos nós com nossos novos bens. Retornarei a Terra e seguirás comigo, Viveremos num lar singelo, claro e amigo; Conforme a proteção de Afetos Imortais, Terás comigo o amor de meus futuros pais... No tempo que eu dormir e pequenina for Serás junto ao meu berço, Meu fiel companheiro e maior defensor... E, em regressando a ser menina-criança, Estarás junto a mim por meu sonho-esperança. Nos bebês que eu tiver, em brinquedos do lar, Sei que te embalarei com as canções de ninar; E ao tornar-me mulher, sem qualquer empecilho, Serás, então, de novo, Ante a benção de Deus, meu tesouro e meu filho... Não chores mais. Agora, é o fim da longa espera, Raiará para nós a nova primavera... Não te importem a luta, o esforço, a prova e a dor!... Todo lugar é Céu onde está nosso amor!... Calou-se a mãe sublime. E entre nós, em seguida, Ergueu-se a sustentá-lo com ternura, Qual se o pobre fosse a própria vida. Depois, a despedir-se, a nobre criatura, Na carícia de luz, que das mães se descerra, Partiu a carregá-lo, em direção a Terra. Nosso Mentor, em voz pausada e enternecida, Agradeceu aos Céus a tarefa cumprida. E, qual se me encontrasse, em reunião qualquer, Exclamei, a chorar, em êxtase profundo: - Sê louvado, meu Deus, porque deste à mulher A chave para a vida e a redenção do Mundo!... |
Pelo Espírito Maria Dolores - Do livro: Vida em Vida, Médium: Francisco Cândido Xavier |
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Encontro Inesquecível
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