– “Importa considerar, todavia, que a ciência do
mundo, se não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da
destruição, tem absoluta necessidade do Espiritismo, cuja finalidade
divina é a iluminação dos sentimentos, na sagrada melhoria das
características morais." Emmanuel. (O Consolador, 22. ed., FEB, p. 23.)
Ao nos propormos versar o problema da pluralidade dos
mundos habitados, um dos princípios enfatizados pela Doutrina
Espírita, e, hoje, cogitado por significativa parcela do establishment
científico, como veremos, em síntese, é oportuno reiterar aquela
afirmação lapidar do insigne Codificador do Espiritismo:[1] “Caminhando
de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado,
porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de
um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova
se revelar, ele a aceitará”. (Grifo de Kardec.) Todavia, na
matéria em apreço, o Espiritismo antecipa-se à Ciência, ao ser,
hoje, confirmado por ela, como veremos na segunda parte deste trabalho.
No entanto, é oportuno preceder, repetimos, as
elucidações ao nível da ciência, so- bre o tema em apreço, com as
inquestionáveis afirmações, colhidas ao longo das fontes mais
conspícuas da literatura espírita.
Emmanuel, o preclaro Instrutor Espiritual – a quem
devemos, no cumprimento de elevada missão, recebida dos Planos
Superiores, o impulso significativo à evolução da Doutrina Espírita,
em nossa terra, com repercussão em plano mundial –, detendo-se na
análise da tese da pluralidade dos mundos habitados, afirma
categórico:[2] “Alguns estudiosos, há muitos séculos, guardam as
verdadeiras concepções do Universo, o qual não se encontra
circunscrito ao minúsculo orbe terreno e é representado pelo infinito
dos mundos, dentro do infinito de Deus.” E continua adiante: –
“Infelizmente são inúmeros os que duvidam dessa realidade inconteste,
aprisionados em escolas filosóficas que pecam pelo seu caráter
obsoleto e incompatível com a evolução da Humanidade em geral.”
“Apesar da objetiva dos vossos telescópios, que descortinam, na imensidade, ‘as terras do céu’, julga-se
erradamente que apenas o vosso mundo oferece condições de
habitabilidade e somente nele se verifica o florescimento da vida.” (Esta
declaração de Emmanuel é anterior ao lançamento do Telescópio
Espacial Hubble, que dilatou, ao olhar humano, a extensão do Universo,
considerando que ainda é prematuro, no plano divino, haver condições
de confirmar a tese da pluralidade dos mundos habitados. O grifo é
nosso.) “É que não reconhecem que a Terra minúscula é apenas um
ponto obscuro e opaco, no concerto sideral, e nada de singular existe
nela que lhe outorgue, com exclusividade, o privilégio da vida; em
contraposição aos assertos dos negadores, podeis notar,
cientificamente, que é mesmo, em vosso plano, o local do Universo onde a
vida encontra mais dificuldades para se estabelecer.”
Manifestando-se sobre a posição da Terra em relação aos outros mundos, escreve, ainda, Emmanuel:[3] – “No
turbilhão do Infinito, o sistema planetário centralizado pelo nosso
Sol é excessivamente singelo, constituindo um aspecto muito pobre da
Criação.” E quanto à humanidade terrestre, comparada à de outros
orbes, elucida: – “Nas expressões físicas, semelhante analogia é
impossível, em face das leis substanciais que regem cada plano
evolutivo; mas, procuremos entender por humanidade a família espiritual
de todas as criaturas de Deus que povoam o Universo e, examinada a
questão sob esse prisma, veremos a comunidade terrestre identificada
com a coletividade universal.” (Grifo nosso.)
Na histórica noite de 28 de julho de 1971, diante das luzes das câmaras da TV-Tupi, na cidade de São Paulo, no programa Pinga-Fogo,
assistido por milhões de brasileiros, em todo o País, tendo, como
entrevistadores, católicos, protestantes, espíritas, ateus,
materialistas, céticos e elementos de outras confissões religiosas ou
filosóficas, Emmanuel – em legítima simbiose mediúnica com o médium
Francisco Cândido Xavier, respondendo a entrevistador, que pedia
esclarecimento sobre o livro Cartas de uma Morta, do Espírito
Maria João de Deus (editado em 1945 pela LAKE)*, no qual é afirmado
que o Planeta Marte é habitado por civilização superior à da Terra;
isto em divergência com as sondagens procedidas por cientistas
americanos, que comprovam que Marte é um pla- neta deserto como a nossa
lua, e cuja composição atmosférica inviabilizaria a vida como a
existente na Terra – faz as seguintes ponderações, que transcrevemos
em resumo, e que, no nosso entendimento, equacionam devidamente o
problema levantado, o qual, aliás, tem motivado alguma estranheza,
principalmente, aos estudiosos do Espiritismo:[4]
“(...) nós sabemos que o espaço não está vazio,
conquanto as afirmações da Ciência e as sondas possam trazer
respostas negativas do ponto de vista físico, nós precisamos compreender que a vida se estende em outras dimensões.
E nós estamos no limiar de tempos novos em que a Ciência
descortinará para todos nós um futuro imenso diante do Universo.
Então, será necessário esperar que a Ciência possa compreender e
interpretar para nós outros, os filhos da Terra, a vida em outras
dimensões, em outros campos vibratórios. Allan Kardec, nas perguntas e
respostas de números 56 e 57, se a memória não me está falhando, em
O Livro dos Espíritos, explica que a Natureza dos mundos e a
Natureza material ou física dos habitantes desses outros mundos podem
ser muito diferentes dos habitantes da Terra.” (Grifo nosso.)
Quando a imprensa registra a brilhante odisséia do
reconhecimento pela Ciência, através de tecnologia de ponta, da
estrutura do planeta Marte – é oportuno registrar algo, em vôo
rasante, do pensamento de corporações científicas, a respeito da
pluralidade dos mundos habitados, com vida inteligente ou simplesmente
com vida elementar, evoluindo, forçosamente, para estágio superior de
vida.
O Professor Dulcídio Dibo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nas conclusões do seu livro Vida em Outros Planetas, registra:
“Na atualidade, existe uma verdadeira união de
esforços de astrônomos, radioastrônomos, astrofísicos, físicos,
biólogos, biofísicos, cientistas de computação e informática, e
outros, com vistas à perspectiva de contato com civilizações
extraterrestres, suficientemente grande, para justificar o início de
uma série de programas de pesquisas bem formulados, conforme
recomendação da Primeira Conferência de Comunicações com
Inteligências Extraterrestres.
Oito entre dez astrônomos, físicos e biólogos dos
mais importantes centros de pesquisas do mundo, ouvidos, numa sondagem
da rede de televisão CNN, dos Estados Unidos, pensam que, nos próximos
vinte anos, devem ser encontrados planetas das dimensões da Terra,
girando em torno de estrelas similares ao Sol, em órbitas que permitam
absorção de luz e calor nas doses adequadas à criação e
manutenção da vida.
Entre os mais notáveis vultos da Comunidade Científica
contemporânea, que se têm preocupado com a matéria, cabe destacar o
Doutor Carl Sagan, recentemente falecido (1996), que foi professor de
Astronomia e Ciências Espaciais da Universidade de Cornell, de Nova
York, diretor do Laboratório para Estudos Planetários, da referida
Universidade, e ex-Conselheiro da NASA, em sua especialidade. O Doutor
Carl Sagan, em co-autoria com o Doutor Iosef Chmuelovitch Chklovski, do
Instituto de Astronomia de Sternber, da Academia Soviética de Ciência,
de Moscou, no alentado livro A Vida Inteligente no Universo, de
mais de 500 páginas (edição da Publicações Europa-América Ltda.,
de Lisboa, Portugal), nos proporcionam elementos indiscutíveis, que
confortam sobremaneira a tese da pluralidade dos mundos habitados, isto
é, da vida extraterrestre, com todo o penhor de suas credenciais, sem
ferir a ética científica, nem se inclinem para a ficção, o que com-
prometeria a seriedade do trabalho.
Afirma Sagan, em entrevista à revista Veja, de
27 de março de 1996: – ‘Na vasta imensidão do espaço, devem existir
outras civilizações mais antigas e avançadas que a nossa.’ E informa:
– ‘Temos recebido sinais de rádio enigmáticos, vindos do espaço, que
parecem satisfazer todos os critérios científicos para o que se
estabeleceu ser uma transmissão extraterrestre inteligente. São
sinais modulados, fortes e de banda curta. Ou seja, não poderiam ter
sido gerados por nenhuma fonte natural conhecida de ondas de rádio
cósmicas. Infelizmente esses eventos nunca se repetem. Eles duram cinco
minutos e somem para sempre’.”
Nessa linha de preocupação e entendimento do problema,
podemos referir-nos, entre outros, aos seguintes trabalhos de ordem
científica:
– Inteligência no Universo, de Roger A. Macgowan e Frederico I. Ordway, III, à página 479, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis, Rio de Janeiro;
- Origens Históricas da Física Moderna, de Armando Gibert, à página 34, da Editora Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, Portugal;
- A Aurora Cósmica, de Eric Chaisson, à página 70, Edição da Livraria Editora Francisco Alves S.A., do Rio de Janeiro.
Partindo dos elementos que nos fornece a literatura
acima referida, permitimo-nos as seguintes digressões, sem extrapolar
para nenhuma ficção de ordem científica, permanecendo, porém, nos
limites dos princípios oferecidos pela Ciência: O Universo
observável, cujo limite, para nós da Terra, pressupondo
estarmos situados no meio desse espaço do Universo, está a um raio de
vinte bilhões de anos-luz e, conseqüentemente, com um diâmetro de
quarenta bilhões de anos-luz, segundo informam os recursos
tecnológicos, hoje enriquecidos pelos elementos informativos
proporcionados pelo Telescópio Espacial Hubble; inserem-se, nesse
espaço assombroso, 100 bilhões de galáxias, acessíveis, por hora, ao
conhecimento da moderna Cosmologia, ciência que trata da estrutura do
Universo, diferente da sua coirmã, a Cosmogonia, que trata da origem do
Universo.**
Considerando que a nossa galáxia, a nossa conhecida
Via-Láctea, que embeleza as noites estreladas de verão, da qual
enxergamos, no hemisfério sul, apenas um dos seus braços (galáxia
espiral), trata-se apenas de uma integrante desse conjunto assombroso de
100 bilhões de galáxias conhecidas; e, considerando, ainda, que cada
uma dessas galáxias contém 100 bilhões de estrelas, das quais 6
bilhões de estrelas, por galáxias, constituem um sistema planetário,
calculam os astrônomos que, pelo menos, 3 bilhões de sistemas
planetários possuem, no mínimo, um planeta apropriado ao
desenvolvimento de formas elevadas de vida, isto é, de vida
inteligente, até mais avançada que a nossa.
Permita-nos, com os elementos acima, um cálculo
elementar: Efetuando a multiplicação de 3 bilhões de planetas, com
vida inteligente, por 100 bilhões – que é o número de galáxias do
Universo observável – teremos o número assombroso de 300 quintilhões
de planetas com possibilidade de vida inteligente no Universo. Para
ilustrar estas digressões, cabe citar que Sagan registra, em seu livro
acima referido, à página 171, que no Universo observável, se for
levado em conta o número incalculável de estrelas existentes nos 100
bilhões de galáxias, e a idade do Universo, forma-se um milhão de
sistemas solares de hora em hora.
Em face desses números estonteantes, afirma o
astrônomo Geoffrey Marcy, da Universidade Estadual de São Francisco,
na Califórnia (Veja de 27-3-1996): “Estamos diante de uma prova
gritante de que a existência de planetas, ao contrário do que sempre
se acreditou, é uma regra e não uma raridade no Universo”, o que
endossa o cálculo de número de planetas por sistemas planetários. E
acrescenta: “Mesmo que as chances de surgimento de vida seja apenas de
uma em 100 bilhões de planetas, o que é de um pessimismo brutal, ainda
assim haveria algumas centenas de planetas habitáveis no Universo.”
A grandeza desse número de planetas, 300 quintilhões,
com possibilidade de vida, é de tal magnitude e excede de forma tal a
estrutura atual do nosso poder mental de apreensão, que perde o seu
significado para o nosso entendimento, e diz da nossa insignificância
no contexto do Universo.
Ninguém poderá, com lógica e bom senso, certo que
não há bom senso sem lógica, afirmar que não existam, nesse número
assombroso de planetas, alguns, pelo menos, com possibilidade de vida
evoluindo para vida inteligente, ou mesmo habitados por seres
inteligentes, até mais avançados que os da Terra.
Só a inflexível ortodoxia de um dogmatismo
cristalizado no tempo e na asfixia do seu estreito horizonte
infracientífico pode negar a possibilidade da pluraridade dos mundos
habitados, e, conseqüentemente, que não estamos sós no Universo.
REFERÊNCIAS:
[1] KARDEC, Allan. A Gênese, 40. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, cap I, no. 55
[2] XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel, 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, cap. XVI, p. 90-91.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 55-56.
[4] Pinga-Fogo. Edicel, p. 65.
NOTAS:
* A indagação cabe, por extensão, ao livro Novas Mensagens, do Espírito de Humberto de Campos, editado pela FEB em 1945.
** Um ano-luz corresponde ao espaço de 9 trilhões e
461 bilhões de quilômetros. Para percorrer o espaço de um ano-luz,
num supersônico, a 3 mil quilômetros a hora, levaríamos 350 milhões
de anos; exemplo que damos para aproximar nosso entendimento dessa
medida.
Ney da Silva Pinheiro. Revista "Reformador" - Ano 119 - Janeiro, 2002 - Nº 2.074.