sábado, 26 de outubro de 2019

Das Pétalas Arrancadas

A menina pequena começou a perceber o jardim de sua casa.
Encantou-se com uma flor de cor vermelha – bougainville.
Ainda no colo, pediu ao pai para chegar mais perto. Desejava ver com as mãos e sentir seu perfume.
Ao puxar um pequeno galho colorido, a maioria das pétalas se desprendeu acidentalmente. Estavam agora na palma da mão pequenina.
Havia deixado o ramo da planta escarlate quase sem vestes. A criança se assustou. O galho retornou velozmente para trás.
Olhou para o pai como que dizendo: Não pretendia machucá-la...
Logo após fez um gesto inusitado. Esticou o bracinho, segurando na mão as pétalas soltas que ainda guardava e buscou novamente as flores que haviam permanecido no galho.
Ela queria devolver o que havia retirado da flor, agora semidesnuda.
O pai ficou sem ação. Seu primeiro impulso foi dizer que não era possível, no entanto, aceitou o desejo da filha e deixou que ela ajeitasse delicadamente as partes arrancadas junto às que ainda se mantinham no arbusto.
Enfim, a menina deu a situação por resolvida. O pai, porém, não. Ficou com as pétalas arrancadas no pensamento.
*   *   *
É possível devolver uma pétala para uma flor?
Os botânicos certamente dirão e provarão que não. Uma vez retiradas, não voltam mais. Não há como colar, costurar ou provocar qualquer espécie de regeneração.
Assim como o tempo; assim como as palavras que proferimos; assim com os atos. Não há como desfazer o que foi feito, o que foi dito, o que passou.
Ferimos alguém profundamente e pedimos desculpas. Será que somos nós tentando devolver pétalas arrancadas?
Assim, voltemos à questão original: é possível devolver uma pétala para uma flor?
Tudo nos leva a aceitar o não como a resposta mais razoável, ou a única plausível. Resposta triste.
Porém, se a ingenuidade e pureza infantis acreditaram ser possível, quem sabe possamos acreditar tornar possível, mas de uma forma diferente.
E se decidíssemos cuidar daquela árvore de uma maneira especial, olhando-a todos os dias, assim como o Pequeno Príncipe um dia cuidou de sua rosa?
Estarmos atentos ao que ela precise e não deixar que lhe falte coisa alguma. Vamos nos ocupar do solo, mantendo-o fértil.
Conversarmos sempre, dizer o quanto está bela, acompanhar seu crescimento e lá estarmos, emocionados, quando finalmente, novas pétalas nascerem no lugar das faltantes.
Quem sabe será nossa forma de devolver...
E se não pudermos restituir exatamente aquela flor por alguma razão, poderíamos cumprir nossa missão da mesma forma, com outras. Entendendo que nossa dívida é com a natureza como um todo.
*   *   *
O homem sofre sempre a consequência de suas faltas. Não há uma só infração à Lei de Deus que fique sem a correspondente punição.
Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado.
é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito.
A sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem.
Redação do Momento Espírita, com base na crônica
Das pétalas arrancadas, de Andrey Cechelero e no cap. XXVII,
item 21 do livro
O Evangelho segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec, ed. FEB.
Em 24.10.2019.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Ato de Caridade


Em nossa reunião da noite de 7 de Junho de 1956, nossos Benfeitores trouxeram-nos ao recinto o Espírito de A. C., que nos contou a sua significativa experiência, aqui transcrita.
Oxalá possa ela acordar-nos para mais ampla exatidão, no desempenho de nossos compromissos, na esfera da caridade que, realmente, seja onde for e com quem for, é nosso simples dever.

Espiritismo...
Sou espírita...
Fora da caridade não há salvação...
Maravilhosas palavras!...
Contudo, quase sempre chegamos a perceber-lhes o divino significado depois da morte, com o desapontamento de uma pessoa que perdeu o trem para uma viagem importante, guardando, inutilmente, o bilhete na mão.
Utilizei-me de um corpo físico durante cinqüenta e cinco anos, na derradeira romagem física.
Era casado.
Residia no Rio de Janeiro.
Mantinha a esposa e duas filhas.
Desempenhava a função de operoso corretor de imóveis.
E era espírita à maneira de tantos...
Nunca me interessei por qualquer meditação evangélica.
Não cheguei a conhecer patavina da obra de Allan Kardec.
Entretanto, intitulava-me espírita...
Freqüentava sessões.
Aplaudia conferencistas.
Acompanhava as orações dos encarnados e as preleções dos desencarnados, com a cabeça pendida em reverência.
Todavia, encerrados os serviços espirituais, tinha sempre afeiçoados no recinto, a quem oferecer terras e casas, a quem vender casas e terras...
E o tempo foi passando.
Cuidava devotadamente do meu conforto doméstico.
Meu rico dinheiro era muito bem empregado.
Casa bem posta, mesa farta, tudo do bom e do melhor...
Às vezes, um companheiro mais persistente na fé convidava-me a atenção para o culto do Evangelho no lar.
Mas eu queria lá saber disso?...
A meu ver, isso daria imenso trabalho.
Minha mulher dedicava-se à, vida que lhe era própria.
Minhas filhas deveriam crescer tão livremente como desejassem, e qualquer reunião de ordem moral, em minha casa, era indiscutìvelmente um tropeço ao meu bem-estar.
E o tempo foi passando...
Fui detentor de uma bronquite que me recebia a melhor enfermagem.
Era o dodói de meus dias.
Se chamado a qualquer atividade de beneficência, era ela o meu grande escolho.
No verão, estimava a sombra e a água fresca.
No inverno, preferia o colchão de mola e o cobertor macio.
E o tempo foi passando...
Sessões semanais bem freqüentadas...
Orações bem ouvidas...
Negócios bem feitos...
Aos cinqüenta, e cinco anos, porém, um edema do pulmão arrebatou-me o corpo.
Francamente, a surpresa foi grande.
Apavorado, compreendi que eu não merecia o interesse de quem quer que fosse, a não ser das entidades galhofeiras que me solicitaram a presença em atividades criminosas que não condiziam com a minha vocação.
Entre o Centro Espírita e o lar, minha mente conturbada passou a viver uma experiência demasiado estranha...
Em casa, outros assuntos não surgiam a meu respeito que não fossem o inventário para a indispensável partilha dos bens.
E, no Centro, as entidades elevadas e amigas surgiam tão intensivamente ocupadas aos meus olhos, que de todo não me era possível qualquer interferência, nem mesmo para fazer insignificante petitório.
Para ser verdadeiro, não havia cultivado a oração com sentimento e, por isso mesmo, passei a ser uma espécie de estrangeiro em mim próprio, ilhado no meu grande egoísmo.
Ausentando-me do santuário de minha suposta fé, interiormente desapontado, encontrava o circulo doméstico, e, por vezes, ensaiava, na calada da noite, surpreender a companheira com meus apelos ; entretanto, nos primeiros tentames senti tamanha repulsão da parte dela, a exprimir-se na gritaria mental com que me induzia a procurar os infernos, que eu, realmente, desisti da experiência.
Minhas filhas, visitadas por minha presença, não assinalavam, de modo algum, qualquer pensamento meu, porquanto se encontravam profunda-mente engolfadas na idéia da herança.
Não havia outra recordação para o carinho paterno que não fosse à herança... a herança... a herança...
Passei a viver, assim, dentro de casa, a maneira de um cão batido por todos, porque, francamente, não dispunha de outro clima que me atraísse.
Apenas o calor de meu lar sossegava-me as ânsias.
Alguns meses decorreram sobre a difícil posição em que me encontrava.
Alimentava-me e dormia nas horas certas, copiando os meus antigos hábitos.
Certa noite, porém, tive tanta sede de espiritualidade, tanto anseio de confraternização que, vagueando na rua, procurei o Alto da Tijuca para meditar, chorar e penitenciar-me...
Minha lágrimas, contudo, eram dessa vez tão sinceras que alguém se compadeceu de mim.
Surgiu-me à frente um irmão dos infortunados e, com muita bondade, reconduziu-me ao velho templo espírita a que antigamente me afeiçoara.
Era noite avançada, mas o edifício estava repleto.
Um mensageiro do Plano Superior dirigia grande assembléia.
E o enfermeiro que, paciente, me encaminhara, esclareceu-me que ali se verificava o encontro de um benfeitor do Alto com os desencarnados que se caracterizavam por mais ampla sede de luz.
Esse Instrutor penetrava-nos a consciência, anotando o mérito ou o demérito de que éramos portadores para demandar a suspirada renovação de clima.
Muitos irmãos eram ouvidos pessoalmente.
Após duas horas de expectativa, chegou minha vez.
Pelo olhar daquele Espírito extremamente lúcido, deduzi que nenhum pensamento meu lhe seria ocultado.
Aqueles olhos varriam os mais fundos escaninhos do meu ser.
Anotei meu problema.
Desejava mudança.
Ansiava melhorar minha triste situação.
Perguntou-me o Instrutor qual havia sido o meu modo de vida.
Creio que ele não tinha necessidade de indagar coisa alguma, no entanto, a casa acolhia numerosos necessitados e, a meu ver, a lição administrada a qualquer de nós deveria servir a outrem.
Aleguei, preocupado, que havia protegido corretamente a família terrestre e que havia preservado a minha saúde com segurança.
Ele sorriu e respondeu que semelhantes misteres eram comuns aos próprios animais.
Pediu que, de minha parte, confessasse algum ato que pudesse enobrecer as minhas palavras, algo que lhe fosse apresentado como justificativa de auxilio às minhas pretensões de trabalho, melhoria e ascensão.
Minha memória vasculhou os anos vividos, inutilmente...
Não encontrei um ato sequer, capaz de alicerçar-me a esperança.
Não que o serviço de corretor de imóveis seja indigno, mas é que eu capitalizava o dinheiro haurido em minhas lides profissionais, qual terra seca coletando a água da chuva: chupava... chupava... chupava... sem restituir gota alguma.
Depois de agoniados instantes, lembrei-me de que em certa ocasião encontrara três amigos de nosso templo, na Praça da Bandeira, a insistirem comigo para que lhes acompanhasse a jornada caridosa até um lar humilde, na Favela do esqueleto.
Fiz tudo para desvencilhar-me do convite que me pareceu aborrecido e imprudente.
Mas o grupo, que se constituía de uma senhora e dois companheiros, desenvolveu sobre mim tamanho constrangimento afetivo, que não tive outro recurso senão atender à carinhosa exigência.
Dai a alguns minutos, varávamos estreita choupana de lata velha, onde fomos defrontados por um quadro desolador.
Pobre mulher tuberculosa agonizava.
Nosso conjunto, entretanto, logo à chegada, fragmentou-se, pois a companheira foi convocada pelo esposo ao retorno imediato e o outro amigo deu-se pressa em voltar, pretextando serviço urgente.
Não pude, todavia, imitar-lhes a decisão.
Os olhos da enferma eram de tal modo suplicantes que uma força irresistível me fez dobrar os joelhos para socorrê-la no leito, mal amanhado no chão.
Perguntei-lhe o nome.
Gaguejou... gaguejou... e informou chamar-se Maria Amélia da Conceição.
Seus familiares, uma velha e dois meninos que se assemelhavam a cadáveres ambulantes, não lhe podiam prestar auxílio.
Inclinei-me e coloquei-lhe a cabeça suarenta nos braços, tentando suavizar-lhe a dispnéia ; no entanto, depois de alguns minutos, a infeliz, numa golfada de sangue, entregou-se à morte.
Senti-me sumamente contrafeito.
Mas para ver-me livre de quadro tão deprimente, pela primeira vez arranquei da bolsa uma importância mais farta, transferindo-a para as mãos da velhinha, com vistas aos funerais.
Afastei-me, irritadiço.
E, antes da volta a casa, procurei um hotel para um banho de longo curso, com desinfetante adequado.
E, no outro dia, consultei um médico sobre o assunto, com receio de contágio...
O painel que o tempo distanciara assomou-me à lembrança, mas tentei sufocá-la na minha imaginação, pois aquele era um ato que eu havia levado a efeito constrangidamente, sem mérito algum, de vez que o socorro a Maria Amélia da Conceição fora simplesmente para mim um aborrecimento indefinível...
Contudo, enquanto a minha mente embatucada não conseguia resposta, desejando asfixiar a indesejável reminiscência, alguém avançou da assembléia e abraçou-me.
Esse alguém era a mesma mulher da triste vila do Esqueleto.
Maria Amélia da Conceição vinha em meu socorro.
Pediu ao benfeitor que nos dirigia recompensasse o meu gesto, notificando que eu lhe havia ofertado pensamentos de amor na extrema hora do corpo e que lhe havia doado, sobretudo, um enterro digno com o preço de minha dedicação fraternal, como se a fraternidade, algum dia, houvesse andado em minhas cogitações...
As lágrimas irromperam-me dos olhos e, desde aquela hora, para felicidade minha, retornei ao trabalho, sendo investido na tarefa de amparar os agonizantes, tarefa essa em cujo prosseguimento venho encontrando abençoadas afeições, reerguendo-me para luminoso porvir.
Bastou um simples ato de amor, embora constrangidamente praticado, para que minha embaraçosa inquietação encontrasse alívio.
É por isso que, trazido à vossa reunião de ensinamento e serviço, sou advertido a contar-vos minha experiência dolorosa e simples, para reafirmar-vos o imperativo de sermos espíritas pelo coração e pela alma, pela vida e pelo entendimento, pela teoria e pela prática, porque em verdade, como espíritas, à luz do Espiritismo Cristão, podemos e devemos fazer muito na construção sublime do bem.

Por esse motivo, concluo reafirmando:
Espiritismo...
Sou espírita...
Fora da caridade não há salvação...
Maravilhosas palavras!...
Que Jesus nos abençoe.



Pelo Espírito A.C. - Do livro: Vozes do Grande Além, Médium: Francisco Cândido Xavier

Na Seara do Auxílio

“Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros,se algum tiver queixa contra o outro; assim como o Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” Paulo. (Colossenses, 3:13)

Desnecessário salientar o brilho do cérebro na cúpula da Humanidade.

As nações vanguardeiras do progresso material efetuam prodígios nos setores de pesquisa e definição do plano terrestre.

A universidade é um celeiro de luz para a inteligência.

O laboratório é uma nascente de respostas seguras para milenárias indagações.

Entretanto, na esfera do espírito, sobram discórdias e desesperos, desgosto e desilusão...

Todos nos referimos, inquietos, às calamidades da guerra, à proliferação do vício, aos estrados do ódio ou às deturpações da cultura, conscientes dos prejuízos e desastres que nos impõem ao caminho comum.

Assinalamos, aqui e além, lutas ideológicas, conflitos raciais, insânia e egoísmo...

Que fazemos nós, na condição de aprendizes do Cristo, para o reequilíbrio do mundo?

Achamo-nos convencidos de que a violência não extingue a violência. Além disso, não ignoramos que Jesus nos chamou, a fim de compreendermos e auxiliarmos, construirmos e reconstruirmos para o bem de todos.

Pensemos nisso.

Não alegues isolamento ou pequenez para desistir do esforço edificante que nos compete.

Uma fonte humilde garante o oásis na terra seca, e apenas uma lâmpada acesa vence a força das trevas.

A harmonia do todo vem da fidelidade e do serviço de cada um.

Trabalhemos unidos pela edificação da Terra Melhor.

Comecemos ou recomecemos a nossa tarefa, baseando a própria ação no aviso de Paulo: suportando-nos uns aos outros e perdoando-nos mutuamente.



Pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Entre Irmãos de Outras Terras, Médium: Francisco Cândido Xavier

Fatores de Felicidade

Solicito ao leitor refletir comigo na seguinte frase: “...é um conjunto harmonioso e belo; é uma filosofia que estende as suas investigações sobre todos os conhecimentos humanos; é uma ciência sólida, irresistível, porque se baseia em fatos que denunciam o seu caráter científico; é além de tudo uma luz poderosa que nos ilumina a inteligência, aclara o raciocínio de tal modo que, muitas vezes, nos maravilhamos de sua lógica irrepreensível, de sua harmonia de vistas com o Bem e o Belo, os grandes fatores da verdadeira felicidade.”

Antes de identificarmos o autor e fonte da transcrição, analisemos alguns de seus itens.

Comecemos pelo “estende as suas investigações sobre todos os conhecimentos humanos”. Ora, isto abre uma enorme perspectiva para o pensamento humano, de vez que permite abarcar todos (destacamos) os conhecimentos humanos. Aí já encontramos a abertura e a ausência de preconceitos, através de uma investigação filosófica sadia e coerente.

Na sequência, “baseia-se em fatos”. Ora, se é uma ciência que se baseia em fatos isenta-se de especulações, improvisações, teorias pré-concebidas e mesmo interesses parciais;

sendo fatos enquadra-se em leis naturais, expulsando o fanatismo e quaisquer tentativas de fatos espetaculosos ou classificados como sobrenaturais. E mais, sendo de “caráter científico”, baseia-se em investigações, observações, pesquisas permanentes.

Sendo “luz que ilumina a inteligência, aclara o raciocínio (...)”, com “lógica irrepreensível”, apresenta indicativo de que apela à razão, ao refletir, ao raciocínio mesmo, para que seja entendido, à luz da lógica e do bom senso, e nunca aceito cegamente.

Finalmente, em “harmonia de vistas com o Bem e o Belo”. Ora, aí está um verdadeiro programa de felicidade, pois se buscarmos o bem e o belo, estaremos embasados na moral e portanto, sem causar prejuízos a terceiros, fiéis à própria consciência, cuja voz é a diretriz que norteia o comportamento humano.

Pois bem, esse “conjunto harmonioso e belo” é a Doutrina Espírita, cujo conhecimento e vivência abre um mundo novo à perspectiva intelectual e moral, porque explica as razões e os porquês humanos. O autor da frase é Cairbar Schutel, o Bandeirante do Espiritismo, que de Matão, batalhou para espalhar essa maravilhosa luz.

E somente conhecendo o Espiritismo, saberemos entender a frase transcrita.



por Orson Carrara. Texto enviado pelo autor
www.caminhosluz.com.br

A Ponte

O homem andava pelo caminho árido. Longo era o percurso a vencer. Chegou afinal a um ponto onde pensou que não poderia prosseguir.
Enorme abismo se apresentava à frente. Como transpô-lo?
Sentou-se desolado à beira da garganta escancarada.
E agora? Então olhou para sua direita e divisou um pouco além de onde se encontrava, o perfil de uma ponte.
Ébrio de contentamento, dirigiu-se para lá.
As forças lhe voltaram e ele, satisfeito, caminhou sobre o abismo de rochas nuas, seguro, graças à ponte.
São variadas as pontes no mundo e, algumas, famosas. A Golden Gate em São Francisco; a Presidente Costa e Silva, mais conhecida como Rio-Niterói; a Ponte da Amizade, ligando Brasil e Paraguai; a ponte Neuf, em Paris.
Diferentes em largura, comprimento e arquitetura. Todas, no entanto, traço de união entre duas extremidades distantes.
Você já pensou alguma vez se tornar uma ponte? Ponte entre Deus e os homens, entre a luz e as sombras?
Um hífen de luz entre a dor e o medicamento precioso, entre o desalentado e o consolo, entre o faminto e o alimento?
Estenda suas mãos e aja. Enquanto muitos reclamam das distâncias, estenda os braços e estabeleça a ponte da fraternidade.
Quando vários gritam em face do caos que impera, estenda a ponte da organização e da disciplina.
Seja uma ponte entre a miséria e o trabalho digno, convidando os companheiros que seguem com você, a se engajarem em ocupação útil que garante o pão, o abrigo, a nobreza de servir.
Lembre que entre os homens e Deus, Jesus, o Divino Amigo ainda hoje permanece de braços abertos, conforme Ele mesmo afirmou: Tudo que pedirdes ao pai em meu nome, ele vos dará.
*   *   *
Estêvão, o primeiro mártir do Cristianismo tornou-se uma ponte entre Jesus e o Apóstolo Paulo, filtrando o pensamento do Cristo, para que as Epístolas traduzissem as recomendações do Mestre aos núcleos nascentes da Boa Nova.
Chico Xavier fez da sua existência uma ponte entre o mundo visível e invisível, fazendo sol nas almas, encurtando as distâncias da saudade.
A exemplo dele, pontes se multiplicam no mundo, na ação de homens e mulheres que se anulam em benefício do próximo.
Madre Teresa de Calcutá, Alberto Schweitzer, Irmã Dulce.
Sem falar nos professores que estabelecem a ponte entre o livro e a ignorância, descerrando os caminhos da cultura.
Médium, servidor, amigo, irmão. Onde esteja, torne-se uma ponte de amor, de alegria, de serviço.
*   *   *
Deus vive, manifesta e dilata o Seu amor através das criaturas.
Onde você estiver, Ele se manifestará.
Permita que os outros O sintam através de você, da sua ação, da sua palavra e da sua expressão.
Pense nisso. Mas pense, agora!

Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. FEP.
Em 18.10.2019.

Período de Transe

As densas névoas de natureza vibratória que pairam sobre a sociedade atual produzem um tóxico de natureza entorpecente que a quase todos os indivíduos coloca em semitranse.

Parecendo fantasmas que deambulam sem destino, as massas humanas movimentam-se atoleimadas em faixas de energia deletéria sem a capacidade de entender o que lhes está ocorrendo.

Sob um aspecto, arrastam-nas ao embalo de ruídos alucinatórios e luxúria exacerbada, ou anulam-lhes o discernimento e o bom-tom, permitindo-se quaisquer arrastamentos.

Entorpecidas pelas sensações grosseiras do primitivismo em que se situam, elegem condutas estranhas, distantes dos comportamentos do amor e da responsabilidade que a vida impõe inexoravelmente.

Arrebanhados pela força hipnótica na qual se nutrem, vivem as situações asselvajadas para atenderem falsas necessidades orgânicas, em particular as que pertencem aos instintos primários.

Mentes poderosas da Erraticidade inferior infiltraram ideias torpes nas suas redes psíquicas e não possuem energias saudáveis para arrebentar as amarras magnéticas nas quais estertoram.

Esse estágio que caracteriza a atualidade social é o fruto espúrio de comportamentos materialistas apresentados por doutrinas cínicas e existencialistas que reduzem a vida humana ao estúpido amontoado de células montadas pelo acaso.

O predomínio da natureza animal sobre a espiritual do ser tornou-o brutamonte, insensível às manifestações do amor e da solidariedade.

O individualismo egoísta, ao fracassar, empurrou as comunidades para o coletivismo das modas e hábitos viciosos que desgovernam a Terra.

Problemas que o amor soluciona com facilidade ficaram ao abandono e agigantaram-se em razão da preferência do gozo pessoal em detrimento de outros valores éticos que são a segurança emocional para a existência terrenal.

Esse transe é pestífero porque vitaliza miasmas psíquicos que se transformam em vírus e bactérias agressivos que infestam os organismos em desarmonia.

Surgem doenças repentinamente, e distúrbios individuais de etiologia desconhecida dizimam esses incautos.

O pensamento é o dínamo gerador de forças por ser a casa mental a emissora de ondas que se transformam em ideais e se condensam em fenômenos materiais.

A cada momento, novas propostas de prazer, recreações variadas inconsequentes arrebatam as multidões desestruturadas.

Há um vazio existencial que o gozo material não preenche porque é de breve duração.

Cada dia mais se avoluma a degradação moral e dos sentimentos que adquire cidadania, embriagando os viandantes incautos da organização material.

Quando a situação se tornou desesperadora entre os seres humanos, em cada fase, os Céus ensejaram a oportunidade para que antigos mártires, missionários do bem e da caridade, renascessem no mundo para o despertamento dos anestesiados nas ilusões infelizes.

Esses Espíritos oferecem-se para arrancar do transe nefasto os irmãos que não têm sabido resistir às atrações do mal.

Nesses períodos, a angústia domina as emoções, e os sofrimento se oculta em sorrisos de embriaguez e de paixões imediatistas que consomem as massas.

A angústia, de alguma forma, é necessária no processo da evolução.

A lagarta que ambiciona voar em forma de borboleta leve retorce-se no casulo, experimenta mudanças totais e consegue sair do solo para planar nas correntes aéreas.

Assim também o Espírito vê-se constrangido ao camartelo das injunções, às vezes penosas, para ascender no rumo da Grande Luz.

És membro dessa grei sublime, capacitada para o soerguimento moral da Humanidade.

Alguns que estão participando do movimento revolucionário permanecem na Espiritualidade, a fim de sustentarem os que se sacrificam no corpo que lhes é imposto e tenham assistência especial até a etapa final do compromisso.

Para que bem atendam essa específica tarefa de despertamento para a iluminação, serás convidado aos desafios das sombras e ciladas do mal, permanecendo intimoratos e fiéis no dever aparentemente vencido.

Trata-se de uma verdadeira guerra de ideias que se tornaram vidas, ora necessitadas de socorro e de vitalização.

Não aguardes compreensão generalizada nem apoio emocional. As vítimas do transe não estão dispostas à reabilitação, ao reencontro com a lucidez. E outros que também são sustentados pelo sopro nefasto tecerão armas contra ti, infligindo-te dores e punições perversas para que desanimes.

Formarão grupos bem organizados para o combate e se multiplicarão, surpreendendo pelas armas de que se utilizarão para destruir-te, para silenciar-te.

Mantém-te atento e não revides, caindo nas sórdidas armadilhas que sabem preparar.

Permanece fiel ao compromisso com Jesus, que enfrentou situação equivalente, sempre perseguido, porém, amoroso sem cessar.

Não te surpreendas ante as pequenas vitórias que apresentarão, recordando-te de que a batalha final é a que decide o conflito. Essa luta final não foi a crucificação do Mestre, mas a Sua ressurreição que demonstrou a vitória da verdade.

Nada consiga abater o teu ânimo, nem cedas à dúvida, que é uma nuvem dificultando a claridade do raciocínio.

Luta contra as tuas fracas forças e não te deixes abater, não te entregues.

O Evangelho é canção de alegria inefável e a ti está confiado.

Vive-o em toda a sua magnitude e não concedas espaço ao temor ou à entrega do amolentamento, que logo mais desaparecerá, no fragor da batalha redentora, se permaneceres irretocável no teu dever.



pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 9.4.2019, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=587

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O Educador Perfeito

Como nos tornarmos bons educadores?
Pais, professores, estudiosos, todos necessitamos desse aprimoramento.
Multiplicam-se as teorias e as propostas. Determinadas linhas sugerem um tipo de abordagem, outras afirmam serem as suas as mais adequadas.
Muito importante refletirmos a respeito, nos tempos atuais e, essencial mesmo, abordarmos a educação integral, não aquela meramente intelectual.
Somos seres morais, assim, o educar precisa considerar o educando em sua essência.
Surge, então, a figura do Mestre Incomparável, do grande Pedagogo da Humanidade.
Jesus possui todas as qualidades do educador perfeito. Os recursos pedagógicos de que se serve conduzem o educando, com feliz e profunda alegria, à verdade essencial dos seus ensinos.
Por isso pode sacudir e despertar a consciência adormecida do seu próprio povo, asfixiado sob o peso excessivo da lei mosaica e da política imperialista da época.
Seus ensinos são sempre adaptados aos ouvintes. Nas ocasiões mais oportunas, Ele os pronuncia de forma compreensível para todos. Recorre frequentemente às imagens e parábolas, dando maior plasticidade às Suas ideias.
A Pedagogia do Mestre é também gradual. Não cai jamais em precipitações que possam fazer malograr o aprendizado. Semeia e espera que as sementes germinem e frutifiquem: Tenho ainda muito a vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
Mas, quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade.
Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
Como Educador Genial, Jesus emprega em alto grau a arte de interrogar, de expor, de provocar o interesse dos discípulos. Seus colóquios decorrem sempre num ambiente de incomparável simpatia.
É digno, severo, paciente, segundo as circunstâncias e os interlocutores.
Seus ensinamentos são claros e intuitivos. Cria figuras literárias e busca exemplos da vida cotidiana para esclarecer o Seu pensamento. Aperfeiçoou a forma da parábola e revestiu-a de incomparável esplendor.
Seus ensinos têm um toque de autoridade: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
No entanto, exerce com suavidade essa autoridade.
Responde com bondade aos contraditores de boa fé e com energia aos que querem combatê-lO.
Jesus é Modelo e Guia em todas as áreas da vida e em todas as épocas.
Estudemos o Mestre, sem fanatismo ou idolatria exagerada, que mais dEle nos afastam do que aproximam.
Estudemos a Sua conduta, o Seu jeito de ser com todos.
Esforcemo-nos para imitá-lO, para que nossas ações encontrem respaldo nas dEle.
Ele é Guia seguro, irretocável. Suas lições são atemporais e não dependem de cultura, crenças ou época.
Sejamos melhores educadores confiando no maior de todos, no Pedagogo dos pedagogos.
Esse Educador Perfeito sujeitou-se a estar com aprendizes hostis, relutantes e imaturos por muito amá-los e por enxergar suas luzes potenciais. Nunca desistiu, nunca deixou de ensinar.
Que este seja o maior norte de todos aqueles que temos a honrada missão de educar na face da Terra.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, do livro
História Geral da Pedagogia, de Francisco Arroyo, ed. Mestre Jou
e transcrição do Evangelho de João, cap.16,  vers. 12 a 14.
Em 14.10.2019.

domingo, 6 de outubro de 2019

Tudo Passa

É uma doutrina diferente. Primeiro, o fato. Apareceram os fenômenos. Foram eles que disseram: Nós somos imortais e explicaram a questão da Imortalidade da alma. Então, nós podemos perceber a grandeza dessa mensagem de Deus, quando os Céus se abrem e o exército, sob o comando de Nosso Senhor Jesus Cristo, desce a Terra para consolar a Humanidade.

À semelhança de estrelas luminíferas, tombam os astros do saber e da verdade ao coração das criaturas humanas, convidando-as à ordem, à paz, ao amor, à caridade.

Filhos e filhas do coração, tende tento!

São estes dias que prenunciam aqueles bem-aventurados dias proclamados pelo Senhor da Vida.

É certo que o ultraje, a corrupção, a indignidade campeiam e a pessoa digna sente constrangimento em apresentar a sua honradez.

Com certeza uma grande noite desceu sobre a Terra e as criaturas aturdidas atiram-se ao precipício da loucura suicida.

Jamais houve na Terra tanta grandeza na ciência e tanta miséria moral. Nunca tantos anelaram por uma paz que nasce na consciência reta.

A Doutrina de Jesus chega até nós trazida pelos Seus embaixadores para dizer: Tende cuidado, a existência carnal é sempre muito breve na mensagem do tempo.

Facilmente, os gritos do ontem ressoam no hoje, no amanhã, pedindo misericórdia e amor, enquanto os Céus mandam que desçam à Terra aflita os seus emissários de luz para tornar os dias da Humanidade menos sofredores.

Trabalhai! Tornais-vos archotes luminosos para apagar a densa sombra da noite teimosa. Não vos esqueçais de que mesmo à meia-noite tenebrosa um segundo após é amanhecer.

Já amanhece dia novo. Ainda existem sombras teimosas, ainda pairam dores acerbas que vos preparam e a todos nós para a radiosa madrugada da vida plena.

Fostes chamados nestes dias, ouvistes os convites mais variados para a plenitude. Comovestes-vos algumas vezes com a mensagem de Jesus, traduzida pelos Seus discípulos devotados. Não a esqueçais. Retornai aos lares modificados. Pensai na paz do mundo iniciando a paz em vosso lar. Cantai alegria sorrindo mesmo diante do aparente infortúnio.

Tudo passa!

É a vida de natureza imortal e vós agora tendes conhecimento de que tudo dependerá da vossa contribuição.

Não temais, mesmo que os vossos joelhos estejam desconjuntados, como afirmava o Apóstolo Paulo. Avançai, a meta vos espera!

Jesus, de braços abertos, repete: Vinde a mim, eu vos consolarei.

Que o Senhor de bênçãos a todos nos abençoe.

São os votos do servidor humílimo e paternal de sempre

Muita paz, filhas e filhos.



Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica através de Divaldo Pereira Franco, na conferência de encerramento da 66ª Semana Espírita de Vitória da Conquista, Bahia, em 8 de setembro de 2019. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=586

Afabilidade e Doçura

No exercício da afabilidade e da doçura, que atrairá em teu favor as correntes da simpatia, compadece-te de todos e guarda, acima de tudo, a boa vontade e a sinceridade no coração.

Não será porque sorrias a todo instante que conseguirás o milagre da fraternidade. A incompreensão sorri no sarcasmo e a maldade sorri na vingança.

Não será porque espalhes teus ósculos com os outros que edificarás o teu santuário de carinho. Judas, enganado pelas próprias paixões, entregou o Mestre com um beijo.

Por outro lado, não é porque apregoas a verdade, com rigor, que te farás abençoado na vida; a irreflexão no serviço assistencial agrava as doenças e multiplica os desastres.

Com a franqueza agressiva, embora tocada de boas intenções, não serás portador do auxílio que desejas, conseguindo gerar tão somente o desespero e a indisciplina.

Não será com o elogio público ou com a acusação aberta que ajudarás ao companheiro; quase sempre, o louvor humano é uma pedra no caminho e a queixa, habitualmente, é uma crueldade. Sorrisos e palavras podem estar simplesmente na máscara.

Na alegria ou na dor, no verbo ou no silêncio, no estímulo ou no aviso, acende a luz do amor no coração e age com bondade. Cultivemos a brandura sem afetação; e a sinceridade, sem espinhos.

Somente o amor sabe ser doce e afável, para compreender e ajudar, usando situações e problemas, circunstâncias e experiências da vida, para elevar nosso espírito eterno ao templo da luz divina.



Gaspar M. de Jovelanos em “Oración sobre el estudio de la Literatuta y la Ciências, vol I”: Si algo sobre la tierra merece el nombre de felicidad. Es aquella interna satisfacción, aquel intimo sentimiento moral que resulta del empleo de nuestras faculdades en la indagación de la verdade y em la práctica de la virtud. Se algo sobre a Terra merece o nome de felicidade, é aquela íntima satisfação, aquele íntimo sentimento moral que resultam do emprego de nossas faculdades na pesquisa da verdade e na prática da virtude. 



pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Escrínio de Luz, Médium: Francisco Cândido Xavier

O Juiz Reto

Ao tribunal de Eliaquim ben Jefté, juiz respeitável e sábio, compareceu o negociante Jonatan ben Cafar arrastando Zorobabel, miserável mendi...