quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Em Vigilância


Ouves a triste balada do sofrimento respingando apelos.

Em tidas as vozes uma só voz: fome de paz.

Este equivocou-se; aquele traiu-se; esse emaranhou-se na própria leviandade; este outro perturbou-se na ilusão; aquele outro, revoltado, investe contra si mesmo em desvario.

A colheita é intransferível. Cada um dispõe da liberdade para semear onde, quando e como melhor lhe aprouver.

Ninguém, porém, se eximirá a fazer a viagem de volta, recolhendo.

Responsáveis pelos próprios feitos, estes fazem-se senhores austeros e graves, cobradores às vezes odientos e perversos, ou benfeitores amoráveis.

Por esta razão, a vida é oportunidade que se sucede, uma após outra, favorecendo reparação.

A cada instante podes modificar inteiramente o destino, graças à utilização boa ou má do ensejo que se te apresente em permanente convite.

Não descoroçoes, pois, em tua lida.

Assumiste um compromisso com Jesus.

Não te promete Ele a Terra nem o triunfo barato que transita enganoso.

Incita-te a uma grande violência: arrebentar as amarras das mentiras douradas, da ambição injustificável e da glória perturbadora.

Em contrapartida, propõe-te o triunfo perene sobre as paixões que tisnam a beleza lapidar dos sentimentos, que um dia Lhe deves oferecer, neles refletindo a Sua paz.

Nem receios, nem desconsiderações, nem o pavor que te pode induzir a uma sintonia negativa, nem a negligência que te conduza a atitude arbitrária.

As lições conduzem uma finalidade: aprendizagem. E aprendizagem é uma experiência que deves insculpir em teu mundo íntimo a soldo de sacrifícios para a redenção;

Policia-te. Não te permitas os sonhos utópicos ou os prazeres que te possam infelicitar no trâmite dos sorrisos iniciais para as tragédias culminativas.

O crime passional começa entre os júbilos dos galanteios descabidos.

O alcoolismo inveterado principia no aperitivo que, ao suceder-se, escraviza em inditosa embriaguez.

O vício, sob qualquer aspecto em que se apresente, pode ser comparado à fagulha inocente capaz de atear incêndios terríveis.

Sê jovial, não leviano.

Cultiva o amor, não a vulgaridade.

Faze-te afável, não perturbado pela emoção.

Guarda a previdência, não a mesquinhez.

Detém-te na vigilância, não na obstinação negativa.

Jesus é, para todos entre nós, o exemplo. Na linha de comportamento, é o mediador.

Equilíbrio seja o fiel das tuas aspirações.






Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Do livro: Oferenda

A luz do Natal

Cintilância não é sinônimo de harmonia e paz.
Há claridade nos incêndios destruidores que consomem vidas e bens.
Resplendor sinistro transparece nos bombardeios que trazem a morte.
Reflexos radiosos surgem do lança-chamas.
Relâmpagos estranhos assinalam a movimentação das armas de fogo.
No Evangelho, porém, é diferente.
Comentando o Natal, o Evangelista Lucas assevera que o Cristo é a luz para iluminar as nações.
O Mestre não chegou impondo normas ao pensamento religioso.
Não interpelou governantes e governados sobre processos políticos.
Não disputou com os filósofos quanto às origens do homem.
Também não concorreu com os cientistas na demonstração de aspectos parciais e transitórios da vida.
Contentou-se em fazer luz no Espírito eterno.
Seu ministério endereçava-se aos povos de todo o mundo.
Mas Ele não marcou Sua presença com expressões coletivas de poder.
Absteve-se de movimentar e formar exércitos e sacerdócio, armamentos e tribunais.
Preocupou-se com o que de fato interessava.
Trouxe claridade para todos, projetando-a de si próprio.
Revelou a grandeza do serviço à coletividade por intermédio da consagração pessoal ao bem infinito.
*   *   *
Nas reminiscências da época do Natal, medite sobre o roteiro que você elegeu.
A quê ele o conduz?
Você tem luz suficiente para a marcha?
Que espécie de claridade está acendendo em seu caminho?
Fuja ao brilho fatal dos curtos-circuitos da cólera.
Não se contente com a lanterninha da vaidade que imita o pirilampo de voo baixo dentro da noite.
Apague a labareda do ciúme e da discórdia que atira corações aos precipícios do crime e do sofrimento.
Também não confunda o período natalino com o brilho dos enfeites das lojas.
Em breve, essa cintilação se extinguirá, mas você permanecerá em sua jornada.
Aproveite a habitual pausa de final de ano para refletir com profundidade sobre sua vida.
Identifique as opções que lhe orientam os caminhos.
Raciocine sobre os hábitos por você mantidos e que revelam seu mundo íntimo para os semelhantes.
Estarão eles de acordo com os ensinamentos do Divino Mestre?
Jesus disse que Seu jugo era leve e ofereceu a Sua paz.
Na sequência, revelou-se como o Caminho da verdadeira vida, e fez o convite.
Quem quisesse, deveria tomar sua cruz e segui-lO.
Tomar a própria cruz e caminhar com o Mestre significa imitar Seus luminosos exemplos.
Não há felicidade nos distúrbios e no erro.
Os resplendores da vida terrena bem cedo produzem enfado.
*   *   *
Se você procura o Mestre Divino e a experiência cristã, para além das ilusões do mundo, pare e reflita.
Lembre-se de que há na Terra clarões que ameaçam, perturbam, confundem e anunciam arrasamento.
Ser cristão, desfrutar de Sua sublime paz, implica cooperar com Ele.
Para isso, é necessário dispor-se a extinguir as trevas, acendendo em si próprio aquela sublime luz para iluminar.
É indispensável dispor-se a amar e servir, fazendo disso um hábito, pela repetição incessante.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no capítulo XLIV
do livro
Segue-me!..., pelo Espírito Emmanuel, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 15, ed. FEP.
Em 26.12.2018

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Para todos os males...

Para todos os males só existe um medicamento de eficiência comprovada!

Onde quer que você esteja, seja a alma deste lugar...
Discutir não alimenta.
Reclamar não resolve.
Revolta não auxilia.
Desespero não ilumina.
Tristeza não leva a nada.
Lágrima não substitui suor.
Irritação intoxica.
Deserção agrava.
Calúnia responde sempre com o pior.
Para todos os males, só existe um medicamento de eficiência comprovada.
Continuar na paz, compreendendo, ajudando, aguardando o concurso sábio do Tempo, na certeza de que o que não for bom para os outros não será bom para nós...
Pessoas feridas ferem pessoas.
Pessoas curadas curam pessoas.
Pessoas amadas amam pessoas.
Pessoas transformadas transformam pessoas.
Pessoas chatas chateiam pessoas.
Pessoas amarguradas amarguram pessoas.
Pessoas santificadas santificam pessoas.
Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor.
Acorde…
Se cubra de Gratidão, se encha de Amor e recomece…
O que for benção pra sua vida, Deus te entregará, e o que não for, ele te livrará!
Um dia bonito nem sempre é um dia de sol…
Mas com certeza é um dia de Paz.

Chico Xavier

Sorriso

Sorriso
Onde estiveres, seja onde for, não olvides estender o sorriso, por oferta sublime da própria alma.

Ele é o agente que neutraliza o poder do mal e a oração inarticulada, que inibe a extensão das trevas.

Com ele, apagarás o fogo da cólera, cerrando a porta ao incêndio da crueldade.

Por ele, estenderás a plantação da esperança, soerguendo almas caídas na sombra, para que retornem à luz.

Em casa, é a benção da paz, na lareira da confiança.

No trabalho, é música silenciosa incentivando a cooperação.

No mundo, é chamamento de simpatia.

Sorri para a dificuldade e a dificuldade transformar-se-á em socorro de tua vida.

Sorri para a nuvem, e ainda mesmo que a nuvem se desfaça em chuva de lágrimas nos teus olhos, o pranto será conforto do Céu, a fecundar-te os campos do coração.

Não te roga o desesperado solução do enigma de sofrimento que lhe persegue o destino. Implora-te um sorriso de amor, que renove as forças, para que prossiga em seu atormentado caminho.

E, em verdade, se os famintos e os nus te pedem pão e agasalho, esperam de ti, acima de tudo, o sorriso de ternura e compreensão que lhes acalme chagas ocultas.

Não condenes as criaturas que se arrogaram aos precipícios da violência e do crime. Oferece-lhes o sorriso generoso da fraternidade, que ajuda incessantemente, e voltar-se-ão, renovadas, para o roteiro do bem.

Sorri, trabalhando e aprendendo, auxiliando e amando sempre.

Lembra-te de que o sorriso é o orvalho da caridade e que em cada manhã, o dia renascente no Céu é um sorriso de Deus.


Autor: Meimei
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Em Oração

Em Oração
Compreendemos a luta, a desdobrar-se nos dois lados da vida.

Guardemo-nos porém, na oração.

Paz por dentro, a fim de que as nossas atividades construtivas estejam garantidas por fora.



Bezerra de Menezes
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

As Lágrimas

Existem pessoas que afirmam ter uma grande dificuldade para chorar.
Há quem acredite que as lágrimas são próprias da feminilidade, que atestam fraqueza, fragilidade.
Certa feita, um pai foi surpreendido pela pergunta de seu filho de cinco anos:
Pai, por que nunca vi você chorar?
Que poderia ele responder?
Talvez fossem seus anos de raiva, tristeza e até alegria engolidas, que o impedissem de se expressar com lágrimas. Ou talvez porque fora educado com os conceitos de que o homem não deve chorar.
A verdade é que aquele pai sofria de problemas de depressão, com os quais lutava há tempos e somente respondeu:
Filho, lágrimas fazem bem para meninos e meninas. Fico feliz que você possa chorar sempre que está triste. Os pais, às vezes, têm dificuldade para mostrar como se sentem. Talvez eu possa melhorar algum dia.
Nos dias que se seguiram, o pai orou intensamente a Deus rogando por alguma coisa que o fizesse sentir-se melhor.
Aproximava-se o Natal com todo seu encanto e magia. O diretor da escola convidou o garoto de cinco anos para cantar pequena estrofe de uma canção natalina, em um culto religioso.
Naturalmente, os pais se encheram de entusiasmo. O filho tinha pendores para a música. Estudava piano desde os quatro anos. Gostava de cantar.
À medida que os dias iam sendo marcados no calendário, dando ciência da proximidade do evento, pais e filho principiaram a ficar ansiosos.
O menino começou a temer não conseguir e o pai compareceu à cerimônia religiosa, na véspera de Natal, com expectativas limitadas.
Colocou-se no lugar do filho e imaginou que jamais ele enfrentaria um microfone e um público com centenas de pessoas.
O garoto aproximou-se do microfone e começou a entoar as notas, uma a uma. Eram versos lindos que enchiam o espaço e os corações.
O pai contemplou o menino e sentiu-se invadir por uma onda de ternura. O que seu filho cantava tinha sabor de eternidade, uma beleza sem par.
Parecia-lhe que um anjo se corporificara ali, perante a comunidade, para brindar a todos com um presente especial de Natal.
Então, grossas lágrimas surgiram nos seus olhos. A canção terminou e ele buscou o filho.
Ajoelhou-se, para ficar do tamanho dele e penetrou com o seu o olhar azul do menino.
Patrick, você se lembra de quando me perguntou por que nunca me tinha visto chorar?
O menino afirmou com a cabeça.
Bem, estou chorando agora. Seu canto foi tão lindo que me fez chorar.
O garoto sorriu, feliz. Atirou-se nos braços do pai, dizendo-lhe ao ouvido enquanto o estreitava fortemente:
Às vezes, a vida é tão bonita que a gente tem de chorar.
*   *   *
Por temperamento nos retraímos em muitas circunstâncias.
Todos detemos a capacidade dos melhores sentimentos de amor. Expressá-los, permitir que outros compartilhem das nossas emoções, das alegrias ou das dores que nos invadam o íntimo, é também exercício de humildade e fraternidade.
Quando nos sentirmos tocar nas fibras mais delicadas de nosso ser, pela música, por um gesto de carinho, uma conquista dos nossos pequenos, permitamo-nos a visita das lágrimas doces, expressão do amor que alimenta outros amores, sem vergonha, porque ninguém evolui realmente sem o cultivo dos sentimentos mais edificantes.
Redação do Momento Espírita, com base
no conto  
Longe, na manjedoura, da RevistaSeleções Reader’s  Digest, dezembro de 1998.
Em 18.12.2018.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

E Ele andou pela praia...

A região do mar da Galileia era uma paisagem sem igual naqueles dias abençoados.
As aldeias apresentavam a movimentação própria daquela gente simples, que aguardava um Messias. E o ar puro contagiava as mentes e os corações.
Foi nesse cenário que saíste, Jesus, a andar, naquela manhã, cheio de esperança e repleto de confiança.
Andaste mansamente pelas margens e, ao cruzar com alguns pescadores, os convidaste a Te seguirem.
Como que atraídos por um magnetismo insuperável, eles foram deixando as redes e objetos que tinham nas mãos e, sem olhar para trás, Te acompanharam.
Não sabiam, naquele momento, quem verdadeiramente eras, nem para onde os levavas e o que farias com eles.
Não mediram perigos, inconveniências, cuidados. Apenas Te seguiram mecanicamente, automaticamente...
Seguiram-Te, tomados de uma confiança que não saberiam dizer de onde vinha.
Pouco conheciam do mundo, além dos limites de seus afazeres rotineiros.
Suas vidas se limitavam ao trabalho, suas famílias, seus amigos.
Mas todos sabiam que seriam fiéis ao Teu chamado.
Ao convocá-los, Tu lhes disseste que se Te acompanhassem farias deles pescadores de homens.
De pesca conheciam muito bem, pois que viviam e sobreviviam graças à sua habilidade nas redes, desde seus pais e demais antepassados.
Andavas, e eles Te seguiam. Agregaste outros mais e juntos continuaram...
Mais tarde os reunistes na casa de Simão Pedro, o mais velho dentre todos. Ele teria, talvez, em torno de um pouco mais de trinta anos.
E os tornaste Teus Discípulos, a quem ensinaste aquilo que jamais supunham aprender.
Eram, desde então, Teus irmãos queridos a quem ensinavas com amor, carinho e paciência.
E logo mais os chamavas amigos porque dizias lhes ter ensinado tudo que do Pai trazias como verdades.
A eles transmitiste ensinamentos da Terra e outros do Além, ignorados das massas, naquela época.
Foi a eles que descortinaste pela primeira vez, as Leis Naturais, Divinas e insuperáveis.
Fizeste desses doze homens, que cativaste com amor e para o amor, a mola mestra dos Teus ensinamentos.
Com eles saías constantemente, a caminhar e exemplificar as lições para uma vida melhor.
Ensinamentos de amor para um amor sem limites e sem rejeição.
Apresentaste os ensinamentos básicos para com eles estruturar um complexo de luzes, amor e paz que deveria alterar o cenário do mundo.
Fizeste o convite, eles aceitaram, aprenderam. Estava formado o grupo que implantaria os alicerces do grande empreendimento.
Todos estavam dominados pelo brilho de Teus olhos e pela ternura de Tua presença.
Tornaram-se os construtores do novo mundo, dando-se integralmente à causa abraçada.
Desde então, nunca mais a Humanidade seria a mesma.
Jamais se repetiriam aqueles dias que se transformaram no marco definidor de um futuro, bem diferente do passado.
*   *   *
Bendita a manhã, Senhor Jesus, em que saíste a andar pela praia.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. IV, do livroVivendo com Jesus, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia
de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 11.12.2018.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Onze Tópicos

Onze Tópicos

1 - É o homem um composto de tríplice natureza: - humana, astral e espiritual, isto é - matéria, fluido e essência. Esse composto poderá também ser traduzido em expressão mais concreta e popular, assimilável ao primeiro grau de observação: - corpo carnal, corpo fluídico ou períspirito, e alma ou Espírito, sendo que do último é que se irradiam Vida, Inteligência, Sentimento, etc., etc. - centelha onde se verifica a essência divina e que no homem assinala a hereditariedade celeste! Desses três corpos, o primeiro é temporário, obedecendo apenas à necessidade das circunstâncias inalienáveis que contornam o seu possuidor, fadado à desorganização total por sua própria natureza putrescível, oriunda do limo primitivo: - é o de carne. O segundo é imortal e tende a progredir, desenvolver-se, aperfeiçoar-se através dos trabalhos incessantes nas lutas dos milênios: - é o fluídico; ao passo que o Espírito, eterno como a Origem da qual provém, luz imperecível que tende a rebrilhar sempre mais aformoseada até retratar em grau relativo o Fulgor Supremo que lhe forneceu a Vida, para glória do seu mesmo Criador - é a essência divina, imagem e semelhança - (que o será um dia) - do Todo-Poderoso Deus!


2 - Vivendo na Terra, esse ser inteligente, que deverá evolver pela Eternidade, denomina-se Homem! sendo, portanto, o homem um Espírito encarcerado num corpo de carne ou encarnado.


3 - Um Espírito volta várias vezes a tomar novo corpo carnal sobre a Terra, nasce várias vezes a fim de tornar a conviver nas sociedades terrenas, como Homem, exatamente como este é levado a trocar de roupa muitas vezes...


4 - O suicida é um Espírito criminoso, falido nos compromissos que tinha para com as Leis sábias, justas e imutáveis estabelecidas pelo Criador, e que se vê obrigado a repetir a experiência na Terra, tomando corpo novo, uma vez que destruiu aquele que a Lei lhe confiara para instrumento de auxílio na conquista do próprio aperfeiçoamento - depósito sagrado que ele antes deveria estimar e respeitar do que destruir, visto que lhe não assistiam direitos de faltar aos grandes compromissos da vida planetária, tomados antes do nascimento em presença da própria consciência e ante a Paternidade Divina, que lhe fornecera Vida e meios para tanto.

5 - O Espírito de um suicida voltará a novo corpo terreno em condições muito penosas de sofrimento, agravadas pelas resultantes do grande desequilíbrio que o desesperado gesto provocou no seu corpo astral, isto é, no períspirito.


6 - A volta de um suicida a um novo corpo carnal é a lei. É lei inevitável, irrevogável! É expiação irremediável, à qual terá de se submeter voluntariamente ou não, porque a seu próprio benefício outro recurso não haverá senão a repetição do programa terreno que deixou de executar.

7- Sucumbindo ao suicídio o homem rejeita e destrói ensejo sagrado; facultado por lei, para a conquista de situações honrosas e dignificantes para a própria consciência, pois os sofrimentos, quando heroicamente suportados, dominados pela vontade soberana de vencer, são como esponja mágica a expungir da consciência culposa a caligem infamante, muitas vezes, de um passado criminoso, em anteriores etapas terrenas. Mas, se, em vez do heroísmo salvador, preferir o homem a fuga às labutas promissoras, valendo-se de um auto-atentado que bem revelará a vasa de inferioridade que lhe infelicita o caráter, retardará o momento almejado para a satisfação dos mais caros desejos, visto que jamais se poderá destruir porque a fonte de sua Vida reside em seu Espírito e este é indestrutível e eterno como o Foco Sagrado de que descendeu!

8 - Na Espiritualidade raramente o suicida permanecerá durante muito tempo. Descerá à reencarnação prestamente, tal seja o acervo das danosas consequências acarretadas; ou adiará o cumprimento daquela inalienável necessidade caso as circunstâncias atenuantes forneçam capacidade para o ingresso em cursos de aprendizado edificante, que facilitarão as pelejas futuras a prol de sua mesma reabilitação.

9 - O suicida é como que um clandestino da Espiritualidade. As leis que regulam a harmonia do mundo invisível são contrariadas com sua presença em seus páramos antes da época determinada e legal; e tolerados são e amparados e convenientemente encaminhados porque a excelência das mesmas, derramada do seio amoroso do Pai Altíssimo, estabeleceu que a todos os pecadores sejam incessantemente renovadas as oportunidades de corrigenda e reabilitação!

10 - Renascendo em novo corpo carnal, remontará o suicida à programação de trabalhos e prélios diversos aos quais imaginou erradamente poder escapar pelos atalhos do suicídio; experimentará novamente tarefas, provações semelhantes ou absolutamente idênticas às que pretendera arredar; passará inevitavelmente pela tentação do mesmo suicídio, porque ele mesmo se colocou nessa difícil circunstância carreando para a reencarnação expiatória as amargas sequências do passado delituoso! A tal tentação, porém, poderá resistir, visto que na Espiritualidade foi devidamente esclarecido, preparado para essa resistência. Se contudo vier a falir por uma segunda vez - o que será improvável -, multiplicar-se-á sua responsabilidade, multiplicando-se, por isso mesmo, desastrosamente, as séries de sofrimentos e pelejas reabilitadoras, visto que é imortal!

11 - O estado indefinível, de angústia inconsolável, de inquietação aflitiva e tristeza e insatisfações permanentes; as situações anormais que se decalcam e sucedem na alma, na mente e na vida de um suicida reencarnado, indescritíveis à compreensão humana e só assimiláveis por ele mesmo, somente lhe permitirão o retorno à normalidade ao findar das causas que as provocaram, após existências expiatórias, testemunhos severos onde seus valores morais serão duramente comprovados, acompanhando-se de lágrimas ininterruptas, realizações nobilitantes, renúncias dolorosas de que se não poderá isentar... podendo tão dificultoso labor dele exigir a perseverança de um século de lutas, de dois séculos... talvez mais... tais sejam o grau dos próprios deméritos e as disposições para as refregas justas e inalienáveis!


Autor: Camilo Cândido Botelho
Psicografia de Yvonne A. Pereira. Livro: Memórias de um Suicida
                     

O Juiz Reto

Ao tribunal de Eliaquim ben Jefté, juiz respeitável e sábio, compareceu o negociante Jonatan ben Cafar arrastando Zorobabel, miserável mendi...